29.6.09

Sem dúvida, Fabuloso!

Inspirado, Luís Fabiano comandou a virada brasileira sobre os EUA com dois gols: O camisa nove se ratifica como jogador-chave na Seleção de Dunga

A conquista do tricampeonato na Copa das Confederações mostra que boa parte desse elenco voltará a África do Sul em 2010 para a disputa do Mundial – mesmo com o Brasil ainda não garantido oficialmente, quem duvida? E mesmo sem ser um gênio das táticas, Dunga vai formando um grupo coeso, cada vez mais comprometido com o espírito aguerrido que o treinador mostrava na sua época de atleta da Seleção. Além da lateral-esquerda, uma das maiores dificuldades desses três anos da era Dunga era encontrar um nome para a camisa nove. Em um post publicado neste espaço em outubro de 2007 (Cadê o 9?), escrevi sobre a falta de um nome confiável para o comando de ataque canarinho. Dunga havia testado Vagner Love, Rafael Sóbis e Afonso Alves, todos sem sucesso.

Em novembro daquele mesmo 2007, Luís Fabiano voltava à Seleção – não era chamado desde a Copa América de 2004 -, convocado para substituir o contundido Afonso Alves, para os jogos das Eliminatórias diante de Peru e Uruguai. As poucas chances de gol na partida diante dos peruanos – que terminou em 1-1 – e a disposição mostrada por Luis Fabiano ao entrar no segundo tempo, em lugar de Love, encorajaram Dunga a mexer no setor, na partida seguinte, contra o Uruguai no Morumbi. Palco do surgimento do centroavante para o futebol, quando de sua passagem pelo São Paulo, o novo titular da camisa nove não decepcionou: com a Celeste vencendo por um a zero, chamou a responsabilidade e marcou os gols da virada brasileira, aliviando um pouco a barra de Dunga, questionadíssimo àquela altura.

Em 2008, mesmo alternando bons e maus momentos com a equipe, Luis Fabiano foi mantido no comando de ataque. Marcou seis gols, três deles no amistoso diante de Portugal que tirou a uruca brasileira de quase um ano sem marcar um gol em campos tupiniquins, desde os dois gols do próprio Fabuloso sobre os uruguaios. E ainda sob desconfiança de alguns, foi mantido no comando de ataque. Com justiça.

A confiança de Dunga em seu futebol começa a render frutos. Neste 2009, marcou oito gols em oito partidas, cravando a impressionante média de um gol por partida. E disputando essa Copa das Confederações, Fabiano ratificou qualquer eventual dúvida que ainda pairava sobre o seu merecimento entre os 11 titulares. Artilheiro da competição com cinco gols e eleito o Bola de Prata – injustamente, perdeu para Kaká – o centroavante do Sevilla mostra que é peça primordial dessa equipe, ao lado de Júlio César e Kaká. Artilheiro do Brasil na era Dunga – 16 gols em 19 jogos - e vice-artilheiro das Eliminatórias Sulamericanas para a Copa, Luís Fabiano não prima pela técnica, é do tipo clássico do centroavante: rompedor, eficiente na jogada aérea, não tem medo de chutar e não se esconde do jogo. Como visto na partida diante dos estadunidenses neste domingo, onde seus gols trouxeram o Brasil de volta à partida, que culminou com a virada e o título, sacramentados por Lúcio.

Mesmo com um Robinho ineficiente em ajudá-lo nas ações ofensivas, Luis Fabiano e Kaká vem suprindo a falta de futebol do jogador do Manchester City. E a sombra de Ronaldo – dono da nove nas três últimas Copas – vai se dissipando ante a um matador esforçado, raçudo e com estrela, até aqui. E essa confiança e entrosamento são benéficas ao Brasil, que vai se ajustando aos poucos e mesmo com eventuais contestações, certamente chegará forte, mas com os pés no chão, para a competição de verdade em 2010. E a aposta em Luis Fabiano é mérito total de Dunga.

27.6.09

E a aura de estrategista?

O episódio sobre a venda de Keirrison foi a gota d’água para a estadia de Vanderlei Luxemburgo à frente do Palmeiras. Por conta da negociação quase fechada entre Keirrison-Traffic-Barcelona, o atacante se ausentou de treinos e foi à Curitiba, com consentimento da diretoria do clube. Mas não com a de Luxa, que não hesitou em “dispensar” K9 do clube caso a negociação entre palmeirenses e catalães não se concluísse: “Dei proteção e agora ele não respeitou os companheiros. Se concretizar a negociação é só colocar outro aqui em seu lugar. Se não concretizar não é problema meu. Aqui, comigo, não joga”, afirmou ao GloboEsporte.com. E a “quebra de hierarquia” destronou o técnico, em mais um episódio onde ele mostra que, por vezes, o profissional se coloca acima do clube e da instituição que o paga - muito bem, por sinal.

Em pouco mais de um ano e meio de Palmeiras, um bom começo de trabalho com a conquista do Paulistão de 2008. Mas depois que Henrique – repassado ao mesmo Barcelona – saiu da zaga que o técnico começava a maturar, o setor nunca mais foi o mesmo. E o Palmeiras deixou escapar um Brasileiro pelo qual ficou por muito tempo brigando pela liderança. No Paulista desse ano, após começo fulminante, caiu vertiginosamente de produção e acabou eliminado pelo Santos. Na Libertadores, penou para se classificar durante a fase de grupos, levou a vaga do Sport na loteria dos penais e foi eliminado por um aguerrido, mais muito mais deficiente tecnicamente Nacional de Montevidéu, após dois empates. Isso com o apoio da Traffic para buscar reforços ao elenco ao fim de 2008.

Na parte tática, quase sempre o técnico escalava uma equipe diferente, principalmente na defesa. E quase nenhuma de suas “apostas” para 2009 vingou até aqui – apenas Cleiton Xavier e Armero, em um pacotão que incluía nomes como Jumar, Edmilson, Maurício Ramos, Ortigoza, e Fabinho Capixaba, entre outros. Há pouco mais de uma semana, PVC publicava em seu blog uma comparação entre os investimentos feitos em Luxemburgo e Mano Menezes, que assumiram, respectivamente, Palmeiras e Corinthians na mesma época. Apenas em salários, o ex-comandante palmeirense custou R$ 4,5 milhões a mais do que Mano. Além dos vencimentos, o custo-benefício no mesmo período aponta grande discrepância, ao analisarmos os elencos e resultados obtidos. Como o próprio PVC apontou, com a contratação de praticamente o mesmo número de atletas neste período – 32 pelo Palmeiras e 30 pelo Corinthians – Mano conseguiu montar uma espinha dorsal forte e um elenco competitivo e vencedor - duas finais de Copa do Brasil, um Paulistão e o título da Série B - em um Corinthians recém-rebaixado, enquanto Luxemburgo viu a maionese desandar após a derrocada do time comandado por ele no Campeonato Brasileiro, a qual quase custou a vaga palestrina nesta edição de 2009 Libertadores.

Como abordado neste blog há 15 dias no post “Perseguidos ou Perseguidores”, Luxa culpava a tudo e a todos pela instabilidade do Palmeiras. Menos a sua incapacidade de montar e comandar o elenco alviverde. Além da falta de profissionalismo ao “excluir” Keirrison do elenco, nunca é demais se lembrar de episódios polêmicos, como da vez que atacou de comentarista durante o jogo de seus próprios comandados, válido pela Copa Sul-Americana de 2008 diante do Argentinos Jrs., na Argentina. Além de não estar com o time reserva – o titular priorizava a disputa do certame nacional – não poupou críticas aos jogadores em campo na transmissão global. Uma atitude, no mínimo, pouco inteligente. Inteligência que também faltou na intransigência dele no caso Keirrison, o qual municiou ainda mais aos cardeais palmeirenses, que vinham pedindo há tempos a cabeça do treinador.

O mais estranho é que essa atitude parece ter sido arquitetada pelo próprio treinador para forçar a sua saída. Não havia qualquer especulação forte sobre o fato e o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo o defendia com unhas e dentes, de torcedores e dirigentes que exigiam veementemente sua saída. Eis que, antes de todos os sites esportivos, Luxemburgo fez questão de comunicar que o Palmeiras o havia demitido por “quebra de hierarquia”, via twitter e em seu blog, hospedado no UOL, exatamente à 00h44 min. Quase quinze minutos antes da notícia veiculada pelo próprio portal, por volta da 1h. E na calada da noite, a quarta passagem de Luxemburgo no Palmeiras terminou. Com a aura de estrategista e manager - que sempre o consagrou através da carreira de técnico - bem mais opaca do que quando chegou, vindo do Santos.

25.6.09

O velho e o novo

Para os italianos, essa Copa das Confederações, além de desastrosa no que diz respeito aos resultados, mostrou que a Itália ficou dependente demais da geração campeã do mundo em 2006, três anos mais velha. Marcelo Lippi – co técnico campeão em 2006 e que retornou ao cargo em julho de 2008 – ainda não encontrou o fio da meada para inserir novos jogadores e mesclá-los aos jogadores que ainda são de grande valia para a Squadra Azzurra. Dos 23 convocados para a Copa das Confederações, 12 estavam no elenco vitorioso de 2006. Muitos deles não vem atravessando boas fases em seus clubes, e por consequência, na seleção também, tais como Camoranesi, Toni, Iaquinta e Zambrotta e até mesmo o capitão Cannavaro. E pela experiência, todos eles fizeram parte do time-base de Lippi que fracassou nesta Copa das Confederações.

A vitória pouco convincente frente aos americanos na estréia – com um homem a menos durante boa parte do jogo – e o fraco desempenho ante aos egípcios na derrota da segunda partida não foram suficientes para que Lippi fizesse grandes modificações na estrutura da equipe. O prodígio Giuseppe Rossi - responsável direto pela vitória frente aos EUA ao sair do banco e marcar dois gols – não foi bem contra o Egito, assim como a equipe como um todo. Precisando marcar gols e contragolpear o Brasil, ele retornou com a formação de ataque inicial, com Iaquinta aberto na esquerda e Toni fixo, mesmo com Rossi e Gilardino gozando de melhor fase na temporada européia. Um Camoranesi apático, que pouco produziu deixava Simone Pepe – que poderia perfeitamente se utilizado como terceiro atacante e ajudar a compor o meio – só entrou quando a maionese já tinha desandado. O jovem e pródigo ala Davide Santon pouco foi testado, vendo Grosso e Dossena - pouco eficientes em campo - jogarem durante o torneio.

Claro que não é preciso fazer uma revolução no elenco. Mas além de testar pra valer alguns nomes e deixar outros velhos conhecidos no vinagre, Lippi pode dar chance a jovens e bons valores, como o bom meia atacante Sebastian Giovinco, - atualmente disputando a fase final do Europeu sub-21 com a Itália - ou reconvocar o bad boy Antonio Cassano, que fez boa temporada pela Sampdoria, após alguns anos de ostracismo. Apesar do comportamento instável, Cassano tem características que cairiam bem à Itália de Lippi e o atacante não fez grandes bobagens em campo em sua estadia na Samp. Mais instável emocionalmente que Cassano, mas também de talento latente, Mario Balotelli seria outra opção de teste na linha de frente. A palavra de ordem é mesclar a geração tetracampeã com outros atletas – no atual elenco, Montolivo, Gamberini, Quagliarella e Palombo – ou com algum dos nomes sugeridos nesse post.

A má campanha na África do Sul serve de alerta aos italianos, apesar do torneio ser, na prática, mais um tubo de ensaio para a Copa de 2010. No entanto, vale lembrar que os últimos campeões do Mundo padeceram do mal que atualmente aflige a Itália: o da pouca renovação dos elencos campeões mundiais. Em 2002, a França – eliminada ainda na primeira fase – contava com 14 atletas campeões em 1998 no elenco. E em 2006, o Brasil levou oito campeões para a Alemanha, sendo que seis deles – Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Gilberto Silva, Ronaldinho e Ronaldo – faziam parte do time-base de ambas. E se Lippi não abrir o olho, a Itália pode decepcionar novamente, desta vez pra valer, na África do Sul.

23.6.09

Até onde vai a arrogância?

O São Paulo tem a fama de ser um clube de elite. Muitos de seus torcedores e cartolas gostam de se gabar de suas origens, dos restaurantes caros que frequentam e das roupas de grife que vestem, seja no clube ou nas numeradas do Morumbi. Até os nome dos cartolas soam elitistas: João Paulo de Jesus Lopes e Carlos Augusto de Barros e Silva. Como se já não bastasse, as recentes conquistas da Libertadores, do Mundial e do inédito tricampeonato Brasileiro, o sexto do clube, elevaram a arrogância tricolor a níveis extremos.

Em nome dessa arrogância, o São Paulo esnobou o uso do Morumbi pelo Corinthians – o maior pagador de aluguel do estádio, um dinheiro que ajuda, e muito, na sua manutenção. Dirigentes gostam de dizer que basta receber um grande show (Madonna, por exemplo) para compensar. Não seria muito melhor conciliar os shows com a renda proporcionada pelo rival? Isso porque estamos passando por uma tal de crise econômica e o clube quer reformar o estádio para a Copa.

Pois é, a Copa. Há tempos, o clube é um opositor da CBF – finalmente seria um bom sinal. Mas por causa da competição a ser realizada no Brasil, fez as pazes com Ricardo Teixeira (será que ele aceitou? Alguém duvida que ele ficaria muito, mas muito contente, se aparecer algum outro projeto para a capital paulista?). A obsessão pela inclusão do estádio como uma das sedes desviou a atenção do clube e o futebol ficou em segundo plano.

O clube ainda acumulou inimizades nos últimos anos: rompeu com a FPF, presidida pelo poderoso e influente Marco Polo Del Nero; tentou formar um grupo com Palmeiras e Corinthians para afrontar a federação – alem de não conseguir, ficou de fora da união entre os três; tentou formar um grupo independente no Clube dos 13, mas brigou com o Flamengo no episódio da Taça das Bolinhas (cadê ela?); Pelo andar da carruagem, sem nenhum apoio, alem é claro dos inúmeros problemas apontados no projeto de reforma do Morumbi, é bem capaz de, alem de ter adiado o sonho do tetra no torneio continental, ficar sem receber jogos do Mundial.

E ainda tem o Muricy, “apenas” o único treinador a conseguir ser tricampeao Brasileiro consecutivamente. Mas a quarta eliminação na Libertadores foi a gota d’água. Juvenal Juvêncio, reconhecidamente um entendedor de futebol , não conseguiu segurar o treinador, como fez no ano passado. Cedeu ao apelo da meia dúzia de dirigentes, aqueles que gostam de sentar na numerada. Mandou embora o único treinador que podia levar o clube a mais um Brasileiro - alguém duvida?.

Ainda durante a trágica derrota para o Cruzeiro, a torcida gritava o nome de Muricy, que, em nome da instituição, como ele mesmo disse, não quis colocar o dedo na ferida e disciplinar alguns jogadores do elenco. Simples, Muricy não faz o tipo “gentleman”, que a diretoria tanto gostaria de ver.

Resta saber, agora, como Juvenal - que de tão sábio é o único que toma todas as decisões, coisas de uma diretoria “moderna” - vai conciliar o controle sobre a equipe, agora nas mãos da incógnita Ricardo Gomes, com a intenção de colocar o Morumbi como sede da Copa do Mundo. Mas o são-paulino não deve se preocupar: trata-se da melhor diretoria do país....

19.6.09

Direita forte, esquerda relutante

O Brasil de Dunga ainda não está redondo. Mesmo com jogadores como Robinho e Gilberto Silva rendendo longe do ideal e um Elano irregular, o técnico testa opções nesta Copa das Confederações, mas não acena com mudanças radicais na meia e no ataque canarinho. O ponto de interrogação na cabeça do técnico brasileiro atualmente está nas laterais, onde as duvidas se contrastam na definição dos titulares das camisas 2 e 6. Ambas as posições não tem tantos candidatos aptos atualmente a assumir as vagas de titulares. Contudo, enquanto a direita nos mostra Maicon e Daniel Alves brigando pela ala direita em altíssimo nível – com certeza, estão entre os cinco melhores do mundo na posição – a esquerda possui postulantes irregulares para agarrar a titularidade ou mesmo de fazer sombra aos concorrentes. Após a saída pós-Copa de 2006 de Roberto Carlos, nomes como Gilberto, Marcelo, Kléber, Adriano, Juan Maldonado e agora, André Santos mostram que a rotatividade no setor é alta, mas sem nenhum titular absoluto.

Na direita, a briga é acirrada. Titular absoluto na era Dunga, Maicon não dava sombra ao concorrente Daniel Alves. Tanto é que na final da Copa América, o técnico chegou a utilizar o apoiador do Barcelona no meio, posição pela qual ele chegou a atuar em algumas partidas de seu ex-clube, o Sevilla. Gozando de seu melhor momento na Inter e na Seleção, Maicon se contundiu na partida contra o Equador, em março, e perdeu o resto da temporada européia. Substituto imediato e subindo de produção no Barcelona, Alves fez boas partidas frente a Uruguai e Paraguai e acabou virando o titular da direita na Copa das Confederações no jogo de estréia. Eis que no jogo desta quinta contra os Estados Unidos, Maicon reaparece como titular e mostra o bom futebol dos tempos pré-contusão, com uma assistência, o terceiro gol e a eleição da FIFA como o melhor em campo. E a boa dor de cabeça se instaura na cabeça do treinador canarinho.

Virando o jogo, Gilberto começou a era Dunga como o titular. Mas tanto na Seleção quanto no Tottenham – transferido do Hertha Berlim – seu futebol caiu vertiginosamente. Tanto é que há quase um ano, o lateral não joga pelo Brasil. De lá pra cá, outros jogadores como Marcelo, Adriano e Kléber não conseguiram apresentar um futebol convincente para sanar as incertezas de Dunga. Contra os estadunidenses, André Santos debutou como titular. Apesar de se apresentar mais ao jogo do que seu antecessor e atual rival na posição Kléber, fez partida discreta. Muito por culpa da Seleção acabar ficando pensa pela direita, tanto pelas incertezas no setor da ala esquerda, quanto pela falta de um meia canhoto. Fatores que acabam prejudicando Robinho, quando atua naquela faixa de campo.

Se na direita, a opção entre a volúpia e força física de Maicon ou a técnica e as bolas precisas de Alves não será questionada, na esquerda as propostas se multiplicam, sem nenhum consenso. No Blog do Carlão, o blogueiro sugere que ambos atuem juntos como na final da Copa América de 2007: Maicon na ala e Daniel Alves na meia, na função de Elano, escolha que acho improvável neste momento com a inserção gradual de Ramires como opção no time. O mesmo Carlão e Juca Kfouri, em seu blog, também evocam a possibilidade de improvisar um deles na ala esquerda. Possibilidade que acho equivocada, visto que Dunga ainda precisa dar uma chance ao experiente Fábio Aurélio, do Liverpool, que tem bola pra assumir a camisa seis se atuar no Brasil tal qual o faz nos Reds. E André Santos, recém-incorporado ao elenco, deve e pode ser mais testado, se convertendo em opção mais ofensiva. O contraponto é que ambos são inexperientes com a amarelinha. A menos de um ano de uma Copa do Mundo.

17.6.09

Onde o Norte reencontra o Sul

Contrastando com as rusgas do regime comunista da Coréia do Norte contra a comunidade internacional - principalmente, os estadunidenses – por conta da reativação de seu programa nuclear e sucessivos testes com mísseis de médio e longo alcance, a seleção norte-coreana trouxe o país de volta ao lado positivo da mídia, ao obter a classificação para a Copa do Mundo após suado empate em 0-0, diante de uma experiente Arábia Saudita – presente nas últimas quatro Copas – que atuava em seus domínios e buscava a vitória que lhes daria a classificação direta à África do Sul. A classificação dos Chollima não deixa de ser grande feito, considerando que a equipe estava em um grupo difícil, ao lado dos já classificados vizinhos da Coréia do Sul, além de Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes, todos com ao menos uma Copa do Mundo no currículo. Em campo, diferem-se dos sul-coreanos – de futebol mais rápido, técnico e dinâmico – pelo seu zelo ao sistema defensivo, até por conta da diferença técnica entre eles. Na fase final das Eliminatórias Asiáticas, foram apenas 13 gols marcados e cinco sofridos em 14 partidas, enquanto que a Coréia do Sul, sempre na mesma chave que o Norte, marcou 22 e sofreu sete. A estrela do time foi o atacante Hong Yong-Jo, do Rostov/RUS, um dos artilheiros do time na campanha classificatória com quatro gols.

Muito comemorada pelos atletas, a classificação para um Mundial após 44 anos de sua única participação – foi quadrifinalista em 1966, tendo como grandes feitos a vitória histórica sobre os italianos e derrota para os portugueses, liderados por Eusébio, por 5-3 após sair com 3-0 de vantagem – parece irrelevante frente ao delicado momento político pelo qual o país atravessa. Mas diversos exemplos do passado mostram que o futebol pode converter-se num instrumento para iniciar um eventual diálogo do regime comunista vigente com os órgãos internacionais como a ONU e a reaproximação com os vizinhos do sul, separados desde o fim da Guerra da Coréia, em 1953.
"Será bom para nós, da mesma nação coreana, irmos para a Copa juntos. Será uma grande honra e fonte de orgulho" (Huh Jung-Moo, técnico da Coréia do Sul, antes da última partida entre as duas equipes, disputada em abril de 2009)

O “Jogo da Paz”, ocorrido na Copa de 1998 entre Irã e Estados Unidos, opôs em campo países com velhas e ferrenhas rusgas, em cenário semelhante ao vivido pela Coréia do Norte. E apesar de todo o clima de hostilidade fora dele, em campo o que se viu foi a troca de gentilezas, muita disputa e vitória dos iranianos por 2-1. Nas Eliminatórias Asiáticas para a Copa de 2010, Coréias do Sul e Norte se enfrentaram quatro vezes, com três empates e uma vitória dos sul-coreanos na última partida. As diferenças políticas fizeram com que as duas partidas de mando dos norte-coreanos fossem disputadas em campo neutro, na China, por conta da intransigência do regime de Kim Jong-Il em exibir a bandeira e tocar o hino dos vizinhos e adversários em seu solo. Ainda assim, o clima entre os torcedores na primeira partida entre as duas seleções na China era de muita cordialidade, principalmente da parte dos sulistas para com os nortistas, mais contidos até mesmo por viverem sob um regime de constante repressão.

Mesmo com o diálogo difícil, as duas partes já deram pequenos sinais de reaproximação através do esporte ao disputar em Pyongyang, capital do norte, o último amistoso de futebol entre ambas sob a mesma bandeira, em 1990. Ou desfilar nos Jogos Olímpicos de Sydney e Atenas também sob o mesmo símbolo. Em um momento tão delicado, a neutralidade dos gramados sul-africanos pode amenizar as tensões sobre um possível conflito ou até mesmo inspirar a retomada de entendimentos entre a Coréia do Norte e a comunidade internacional. Como disse Pedro Bassan, à época fazendo a reportagem para o Esporte Espetacular durante a cobertura da primeira partida das Eliminatórias entre os rivais em Xangai (que infelizmente não encontrei para disponibilizar aqui): “o dia em que este jogo não existir, o mundo será um pouquinho melhor”.

*Post redigido para a série “Como o esporte gira em torno do mundo”, proposta por Breiller Pires, do Rola Blog. Para acomapnhar os outros posts, escritos por diversos blogueiros, visite o RB ou acesse os textos via twitter, pela tag #esportemundo

15.6.09

Efeito estilingue?

Após o tropeço dos reservas do Inter em casa no empate contra o Vitória e o triunfo sobre o Náutico no Mineirão por 3-0 - mesmo com um a menos por quase meio tempo – o Atlético/MG de Celso Roth chega à liderança do Brasileirão após seis rodadas. O Galo tem seu melhor início na era dos pontos corridos, superando a marca anterior, de 2003, quando o time chegou à ponta da tabela após cinco rodadas. Coincidentemente, com o mesmo Celso Roth no comando da equipe atleticana. À exceção de 2008, quando brigou com o Grêmio até o final do campeonato com o São Paulo, Roth se caracterizou por ótimos começos de Brasileirão com times tecnicamente medianos, mas sempre acabava sendo demitido ou com sua equipe no meio da tabela após quedas bruscas de produção (campanhas de Roth no blog Futebol em Números).

Ainda com alguma desconfiança e claramente com um elenco limitado, o Atlético/MG vai impondo seu ritmo, com boas atuações de Éder Luiz e Diego Tardelli – artilheiro da equipe no Brasileirão, com três gols e na temporada 2009, com 26 – que parece ter reencontrado o futebol perdido dos tempos de São Paulo, assim como o veterano ala Júnior, além do volantes Márcio Araújo e Renan. Os reforços do bom goleiro Aranha e do zagueiro Alex Bruno ainda parecem pouco para um time que antes da chegada de Celso Roth, há pouco mais de um mês, havia sido destroçado nas finais do Mineiro pelo Cruzeiro após terminar a fase classificatória à frente dos rivais. A renovação na equipe vem acontecendo aos poucos e a liderança apesar de merecida neste momento, ainda é uma grata surpresa. Basta lembrar que vários virtuais favoritos deste campeonato ainda não mergulharam de cabeça no certame, tais como Inter, Corinthians, Palmeiras, Cruzeiro, Grêmio e São Paulo, todos envolvidos em fases decisivas de Copa do Brasil e Libertadores.

Não acho que esse time do Atlético/MG seja péssimo a ponto de brigar pelo rebaixamento, tanto que a equipe tem o ataque mais positivo do campeonato até aqui, com 14 gols. Mas essa liderança real pode mascarar o real potencial da equipe de Celso Roth, se não trouxer mais reforços, principalmente na composição do elenco. E pra quem é supersticioso: além de Celso Roth ainda não ter conquistado nenhuma das edições do brasileirão que disputou – a 12º, em 2009 – o gaúcho acabou sendo demitido depois do excelente começo em 2003 pelo Galo, na 20ª rodada.

12.6.09

Perseguidos ou perseguidores?

Cada entrevista ou coletiva de imprensa se torna um interrogatório, uma inquisição. Ao menos na visão de dois profissionais do futebol brasileiro: o atacante Kleber e o técnico Vanderlei Luxemburgo. O Gladiador, não contente com a “perseguição” por parte da imprensa, agora acusa a arbitragem brasileira de marcação implacável sobre suas atitudes. Já o técnico palmeirense criou uma nova categoria de jornalismo esportivo: "Fico triste com jornalismo de perseguição. Tem muita gente fazendo isso, como era no tempo da ditadura. Eu tenho que rebater para que as coisas fiquem melhores na frente. Não para mim, que estou em um processo final, mas para os jogadores", afirmou ao site UOL.

O Palmeiras começou bem a temporada. Marcando muitos gols e sem perder, tudo caminhava de vento em popa para o treinador, até então pouco questionado. Aí veio a má fase de Keirrison, a eliminação no Paulistão, os dramas na classificação da Libertadores frente ao Colo-Colo e Sport, o mau empate com o Nacional uruguaio em casa e, por fim, os três pontos contra o Vitória no último domingo, pelo Brasileirão. Mas o triunfo sobre os baianos, dentro de campo, foi conseguido na bacia das almas com um gol no final. Até ali, o Vitória - que já havia sido prejudicado pela arbitragem - conseguia se impor frente a um adversário perdido em campo, com um abismo entre defesa e ataque, além de pouco padrão – das 37 partidas do Palmeiras em 2008, 33 formações diferentes.

Não digo que a imprensa em geral faz corretamente sua função – muitos jornalistas fazem mal sua parte, criando factóides – mas a cada coletiva de Luxa, um culpado vem à tona: é o árbitro que não apitou certo, é a torcida que não incentiva como as outras, é a imprensa que só o persegue e não vê sua história no futebol. Já notaram que nunca é o técnico que erra? Colecionando inimizades com a maior organizada do Palmeiras e parte da diretoria alviverde, Luxemburgo atira para todos os lados. Com o dinheiro investido pela Traffic em reforços, não conseguiu montar uma defesa forte. No entanto, vem dando azar com Marquinhos e Willians – as voltas com contusões – e a má fase de Keirrison. Há jogadores do time que vivem boa fase, como Marcos, Pierre, Cleiton Xavier e Diego Souza – todos com muito mérito do técnico – mas a inconsistência do Palmeiras em campo chega a assutar.

Já o atacante Kléber vem construindo sua fama de Gladiador desde seu retorno ao Brasil, ao Palmeiras. Em 2008 com a camisa alviverde, foram 17 amarelos e três vermelhos em 47 partidas. Com a camisa do Cruzeiro, já acumula três expulsões e sete amarelos em 21 jogos. Em contrapartida, é o artilheiro do time na temporada, com 19 gols. Após a nova expulsão contra o Inter, onde além de empurrar Taison, pisou o goleiro Lauro antes de ser agredido, o que culminou na expulsão de ambos. Mesmo assim, disparou contra a arbitragem brasileira e o STJD: "Aí os caras do STJD, que vêem essas coisas, punem a gente quando fazemos alguma coisa e agora vão punir o juiz. Tem algumas coisas que são piadas, isso aqui está virando bagunça, palhaçada. Os juízes estão de palhaçada". Convenhamos que o nível das arbitragens brasileiras não é das melhores e que as decisões do STJD não passa seriedade alguma, mas Kléber e seu histórico não convencem nas reclamações (as explusões de Kléber, no blog Futebol em Números). Se ele realmente sofre rodízio de faltas é porque os jogadores sabem de seu pavio curto e que ele pode revidar, cavando a expulsão do atacante. Ou seja, falta um pouco de cabeça na maioria dos episódios, onde o grande prejudicado além dele mesmo, é o próprio Cruzeiro.

Um evoca o histórico de grandes conquistas e o orgulho de ter passado por uma CPI e ter sido inocentado e não admite melhorar as deficiências defensivas do time. O outro, ameaça jogar no exterior, pois acha que lá pisões, cotoveladas e carinhos maldosos não são passíveis de expulsão. Mesmo com o histórico de seis expulsões em um ano e meio de futebol brasileiro, alto para um atacante. Quem será que persegue quem mesmo?

11.6.09

Volver

Ao final de mais uma rodada das eliminatórias, Brasil e Chile saíram com os resultados mais vantajosos. Mesmo com o Brasil tendo os compromissos mais complicados, ante Uruguai e Paraguai, o Chile tem muitos motivos para comemorar: com a goleada em casa sobre a Bolívia e as derrotas de Paraguai e Argentina, La Roja dorme vice-líder das Eliminatórias Sul-Americanas. Um grande feito para uma seleção que iniciou irregularmente a sua trajetória, com apenas uma vitória nos primeiros quatro jogos e que era cotada como uma equipe que brigaria pela quarta vaga direta ou pela vaga na repescagem contra o representante da CONCACAF. E grande parte do excelente momento chileno se deve ao treinador Marcelo “El Loco” Bielsa.

Sem participar do Mundial desde 1998, La Roja nunca viu um momento tão favorável em campo para retornar à Copa do Mundo. Sem perder na Eliminatória há cinco partidas – com importantes vitórias sobre Argentina e Paraguai – os chilenos mostram eficiência e rapidez do meio pra frente e uma defesa que, se não é brilhante, não chega a comprometer, ao menos até aqui. Um meio-campo leve, com nomes como Matías Fernández – que apesar de apenas 23 anos, é um dos jogadores com mais partidas com a camisa chilena, 60 – e ainda tem como opções um voluntarioso Vidal e Valdívia, velho conhecido dos palmeirenses. Aliás, El Mago só não é titular absoluto de La Roja por conta de sua irregularidade. Mas provou ser de grande valia, quando entrou em meio ao truncado jogo ante aos bolivianos e contribuiu com duas assistências na goleada de 4-0. Além da gama de opções na meia, Bielsa conta com bons atacantes como Humberto Suazo – artilheiro chileno no torneio, com seis gols – Jean Beausejour, Aléxis Sánchez e Mark González, que também pode atuar como quarto homem no meio de campo.

Restando quatro jogos – Venezuela (c), Brasil (f), Colômbia (f) e Equador (c) - e a seis pontos da zona de repescagem – atualmente é o Equador, 20 pontos – o Chile vê sua vaga na África do Sul cada vez mais perto, caso mantenha a boa média das últimas partidas. E volte após 12 anos de ausência para sua oitava Copa do Mundo.

9.6.09

Galácticos II: o retorno

O final da novela – que parecia mais um capítulo de Chaves, já que todos sabiam do final – entre Milan/Real/Kaká chegou com o anúncio da segunda maior transação da história do futebol: 65 milhões de euros. Sonho antigo da diretoria merengue, Kaká é o primeiro – e principal – reforço desta nova era Florentino Pérez. O mesmo Pérez que formou a partir de 2001, na sua gestão anterior, um time com nomes como Ronaldo, Figo, Beckham e Zidane, que deram a alcunha de galácticos ao time merengue. E com o recente sucesso e badalação do rival Barcelona após a conquista inquestionável da Europa através do triplete, o presidente do Real não deve medir esforços para trazer outros jogadores world-class ao time. O recém contratado Manuel Pellegrini terá em mãos algumas das melhores peças para devolver o Real Madrid ao topo, algo que não acontece desde 2001/02, após o voleio espetacular de Zidane na final daquela Champions frente ao Bayer Leverkusen. De lá pra cá, em um período de oito anos, dez treinadores diferentes passaram pelo Santiago Bernabéu. Considerando que o Real teve apenas 41 treinadores em sua história de 107 anos, é muito.

Mesmo com os recentes fracassos a nível continental – eliminado das últimas cinco edições da Champions League nas oitavas – o Real Madrid ainda é a grande “Meca” do futebol moderno, por todo o seu histórico de conquistas. E Kaká deixou bem claro em suas declarações que só aceitou a proposta merengue por conta de toda essa “aura” que o clube ainda possui: “A principio, minha idéia era ficar no clube, como sempre falei. Quero deixar claro que não foi uma escolha econômica, senão poderia ter feito outra escolha. Se um dia eu tivesse que sair gostaria de jogar no Real. Se por algum motivo isso tivesse que acontecer, como agora, eu gostaria de jogar no Real.”, declarou Kaká durante a coletiva do anúncio oficial. Mesmo sem definir o número que utilizará durante a temporada, o Real faz algo que sabe fazer com maestria: explorar a imagem do craque brasileiro, vendendo camisas oficiais do novo reforço em seu site oficial. Kaká chega ao Bernabéu como o oitavo “Bola de Ouro” e o 21º brasileiro a defender a mítica camisa merengue.

Sem alternativa por conta da própria incompetência, o Milan não titubeou em vender Kaká. E mesmo sem seu principal jogador dos últimos anos, não terá mais porque adiar a renovação da qual seu elenco tanto necessita, a qual já começou com a aposta em Leonardo. E como bem abordou o colega Filipe Araújo em seu blog Gambetas, Kaká e Real Madrid desejam recuperar os louros de glória de outrora: com 27 anos e no auge da maturidade e técnica, Kaká quer voltar a ser o melhor do mundo, enquanto o Real deseja novamente os holofotes por conta das glórias dentro de campo, não apenas pelos feitos do passado. Kaká já provou que é o atleta perfeito para conduzir os merengues até lá, pois além de toda a técnica que possui, exerce uma liderança natural, como acontecia no Milan e na Seleção Brasileira. E o Real Madrid é o time ideal para colocar Kaká novamente na rota de melhor do mundo.

7.6.09

Sobrevida bugrina

Conforme postado neste espaço há dois meses, o Guarani atingia o fundo do poço dentro de campo: rebaixado vergonhosamente da elite paulista após uma campanha pífia. Afundado em dívidas, abalado pelo rebaixamento, de técnico novo – Vadão assumiu pouco antes do início da Série B – e praticamente com a contratação de um elenco inteiro - 19 jogadores chegaram após o Paulistão – quem imaginaria um Guarani líder da Série B após cinco rodadas, com cinco pontos de vantagem sobre o segundo colocado e com 100% de aproveitamento? Coisas que só o universo futebol explica.

A vitória arrancada no Orlando Scarpelli frente ao Figueirense
mostrou que o Bugre mudou totalmente seu espírito e atitude. Méritos totais para Vadão, que fez o Bugre atingir a segunda maior marca de vitórias consecutivas da história recente da Série B. XV de Piracicaba, em 1998 e Corinthians, em 2008, conseguiram sete vitórias consecutivas no início do certame. O Guarani não vencia cinco partidas seguidas desde 1996 e se vencer o Vasco pela sexta rodada atuando em casa, igualará uma sequência que não é alcançada desde 1984, na época dos áureos tempos da equipe.

Dentre os reforços que deram uma cara nova ao Bugre, estão o zagueiro Bruno Aguiar – autor do gol da vitória contra o Figueirense – o rodado meia Valter Minhoca – ex- Cruzeiro, Flamengo e Ipatinga - e o atacante Caíque, artilheiro do time na Série B com três gols. Mesmo com o impressionante começo e ressurgimento, fica difícil imaginar um Guarani, vindo de uma situação que veio, consiga um acesso para a elite do futebol brasileiro, da qual saiu em 2004. Mas em uma Série B que pinta mais equilibrada que a de 2008 e onde o Vasco, ainda o grande favorito ao acesso e ao título, ainda não embalou e pegou o “espírito” da competição, necessário para embalar, tudo pode acontecer. Ou alguém imaginaria um Guarani numa fase tão favorável como essa antes do início da segundona, após o anúncio da venda do Brinco de Ouro, enterro simbólico e montagem de um elenco inteiro?

5.6.09

6+5: o cálculo complexo

Após a definição das cidades-sede para a Copa de 2014 no Brasil, uma das pautas mais esperadas do Congresso da FIFA, realizado em Nassau, foi abordada novamente: a limitação do número de jogadores estrangeiros utilizados em campo pelos clubes. Conhecida como a regra do 6+5 – seis jogadores nativos do país de origem do clube e cinco estrangeiros -, a regra causa polêmica. Principal afetada pela nova resolução, a UEFA já se levanta contra a proposta. Mesmo com Michel Platini não sendo totalmente contra a idéia, a pressão da maioria dos clubes europeus – principalmente médios e grandes – faz com que o francês se torne da idéia, fortemente defendida pela FIFA na figura de Sepp Blatter. E a aliança existente entre os dois cartolas pode afundar se Blatter continuar insistindo no 6+5, pois segundo o presidente da UEFA a resolução afetará um dos principais pilares da União Européia: a livre circulação entre os países-membros, no que diz respeito a prestação de serviços e leis trabalhistas. “Para ter um calendário, temos de saber se é legal ou ilegal. Não é sobre a Fifa ou sobre o futebol de uma forma geral. É sobre as leis da União Europeia”, afirmou Platini.

Blatter se ampara no Tratado de Lisboa - ratificado pela UE em outubro de 2007 e que espera o aval de todos os 27 países-membros para entrar em vigor em sua plenitude – e assim que as novas leis entrarem em vigor, serão convocadas eleições entre os 208 confederados da entidade máxima do futebol. Entre as medidas do novo tratado – que substitui a Constituição Européia de 2004 – a UE passará a se utilizar de poder jurídico unificado, outro grande avanço do bloco após a utilização de uma moeda unificada, o Euro. O presidente da FIFA deseja que o futebol não seja tratado exatamente como outros tipos de ocupação, devido as particularidades e interesses individuais e coletivos que o esporte bretão envolve. “Temos de perguntar adeptos em todo o mundo: o senhor é a favor de uma forte equipa nacional? É a favor da equipa nacional com os jogadores atuando no campeonato do seu país? É a favor de jovens jogadores em formação e, em seguida, obter acesso para a equipe principal? Deseja que jogadores que vêm da base do clube assinem seu primeiro contato por ele? Se você responder "sim" a todas estas perguntas, então você gosta de mim e é a favor da regra do 6+5”, crava Blatter, em entrevista ao site da FIFA. Equipes como a Inter - sete italianos dentre 32 atletas no elenco - e o Arsenal - três ingleses entre 32 atletas - são grandes expoentes do mosaico de nacionalidades que se tornaram alguns clubes europeus. Na contramão dessa tendência e mostrando que é possível investir na base e ser forte, o Barcelona entrou em campo na final da Champions League de 2008/09 com seis espanhóis, todos revelados em suas categorias de base.

O fortalecimento e a identidade da relação clubes-seleção talvez seja o ponto mais positivo dessa lei. Como resultado, teriamos campeonatos nacionais e continentais mais equiparados, os clubes passariam a investir mais na formação de jogadores nativos do que na aquisição de jogadores consagrados por valores estratosféricos. Com mais jogadores na vitrine, a seleção nacional correspondente ganharia mais opções de jogadores e elas poderiam se tornar mais fortes. Além do 6+5, Blatter quer dificultar a regra para a dupla naturalização. Atualmente, dois anos são suficientes para que o jogador obtenha o benefício e o presidente da FIFA que aumentar o prazo para cinco anos.

Medidas louváveis e que beneficiariam também os continentes formadores de atletas, como as Américas e a África, mas que contarão com fortes entraves da bilionária indústria do futebol, personificada em patrocinadores, empresários de atletas e investidores-presidentes de clubes, como Abramovitch no Chelsea, Berlusconi no Milan e diversos mecenas de origem árabe que seguem adquirindo clubes europeus. Resta saber se a FIFA e Blatter conseguirão atravessar toda essa gama de interesses para a implemetação da nova lei ou se eles acabarão sucumbindo diante da politicagem e da regra de boa-vizinhança existente no futebol.

3.6.09

Aposta na renovação

Depois de quase oito anos à frente do Milan, Carlo Ancelotti, enfim, deixa o comando do Milan. Mesmo reconhecendo sua trajetória de sucesso pelo rossoneri – duas Champions League, um scudetto, uma Copa da Itália, duas Supercopas da UEFA e um Mundial de Clubes da FIFA – Ancelotti já vinha tendo seus métodos contestados há algum tempo. E com a discreta participação do Milan nas últimas duas temporadas – quinto no Calcio 2007/08 e vice em 2008/09 – o respaldo dado ao seu trabalho acabou e o técnico italiano terá novo desafio no instável Chelsea.

A escolha de Leonardo como novo técnico do Milan não deixou de ser uma pitada de ousadia. Apesar de conhecer bem o elenco e já possuir bom trânsito entre os jogadores e Silvio Berlusconi, a aposta no brasileiro não deixa de ter inspiração no ótimo trabalho de Guardiola à frente do Barcelona: triplete europeu do ex-jogador blaugrana em seu primeiro desafio como técnico de futebol. Além disso, a aposta em Leonardo foi feita mesmo com bons nomes disponíveis no mercado europeu, tais como Felipão, Rijkaard, Mancini, Juande Ramos e Klinsmann, entre outros.

Na coletiva de sua apresentação oficial, entre outras coisas, exaltou o futebol ofensivo e bem jogado, preceitos que tentará implantar no Milan: “Eu me inspiro no jogo do Brasil de Telê Santana. Admiro muito esse time de 1982, rápido e com jogadores que não tinham funções fixas e com dois laterais muito ofensivos”, afirmou o agora treinador Leonardo. Mas a tarefa é árdua. O envelhecido elenco rossoneri clama há tempos por uma renovação, principalmente na parte defensiva. A aposentadoria de Maldini deve abrir espaço para uma limpa no setor, principalmente com o aproveitamento de Thiago Silva. Outros desafios de Léo serão a recuperação do futebol de Ronaldinho, relegado ao banco durante maior parte desta temporada que acabou, e a reposição da iminente saída de Kaká ao Real Madrid, praticamente cravada pela imprensa européia. Além da aposta em Thiago Silva e Ronaldinho, Leonardo certamente se utilizará do talento de Alexandre Pato, um dos poucos acertos de Ancelotti no Milan dos últimos anos.

Enquanto isso, no Santiago Bernabéu, a aposta é em Manuel Pellegrini. O técnico chileno, com passagens pelo futebol argentino e responsável pelo upgrade do então pequenino Villarreal no cenário espanhol e europeu em um período de quatro anos, chega a um Real Madrid que promete retomar a era galáctica, com o retorno de Florentino Pérez à presidência merengue. Kaká deve ser apenas o primeiro reforço de um clube que parece não medir esforços para acabar com o "ostracismo" merengue e a adoração ao futebol e elenco do arqui-rival Barcelona. Resta saber como o Inginero responderá ao desafio de comandar uma equipe de nível mundial pela primeira vez, tarefa na qual os promissores Bernd Schüster e Juande Ramos não conseguiram realizar a frente de um gigante como o Real Madrid.

1.6.09

Que fim deram as zebras?

O final da temporada 2008/09 chegou, abrindo a temporada para balanços e especulações. Nos principais campeonatos europeus, algumas zebras ameaçaram galopar nos gramados, mas acabaram por não se concretizar e algumas até mesmo a voltar ao prognóstico de pré-temporada: a zona do “ostracismo” ou a briga pelo rebaixamento.

Caçula desta Bundesliga, o Hoffenheim pode ser considerado um dos azarões que tiveram mais sucesso. Ainda assim, fica uma ponta de decepção, já que o Hoffe chegou a sonhar alto com a conquista simbólica do título de campeão de inverno do certame alemão. Em um primeiro turno fabuloso, peitou os grandes do futebol alemão e virou o turno na frente do Bayern, no saldo de gols. Após um turno inteiro sem perder em jogos dentro de casa, a coisa desandou, principalmente pela falta de peças de reposição dentro do elenco e a contusão grave de seu principal jogador – o bósnio Vedad Ibisevic, artilheiro da Bundesliga àquela altura com 18 tentos. Apenas quatro vitórias no returno e chegando a amargar uma série de sete jogos sem vitória, o Hoffenheim não só viu a chance do título ficar distante, mas acabou o campeonato na sétima colocação, ficando de fora de qualquer competição européia em 2009/10. Mesmo recém-promovido, acabou ficando uma pontinha de decepção ao Hoffe. Enquanto isso no segundo turno, outra zebra arrancou rumo ao título da Bundesliga, comandados por Dzeko, Grafite e Misimovic: o Wolfsburg.

Outro que surpreendeu, mas por menos tempo em relação ao Hoffenheim e Wolfsburg foi o Hull City, também caçula na Premier League. O time do brasileiro Geovanni chegou a encostar na liderança, à época disputada por Chelsea e Liverpool com um time limitadíssimo, como foi comprovado após a boa fase dos Tigers, que durou até a nona rodada. Duas séries de 11 derrotas derrubaram o time, que terminou o campeonato apenas uma posição acima da zona de rebaixamento, se salvando na última rodada graças a derrocada do tradicional Newcastle, rebaixado para a segunda divisão. Outro que chegou a surpreender e a sonhar com uma vaga na Champions League foi o Aston Villa. No entanto, uma série de nove jogos sem vitória podaram os Villains na briga contra o Arsenal, que acabou ficando com a última vaga inglesa para a competição européia. O Villa acabou se contentando com uma vaga na Liga Europa após a sexta colocação na tabela.

A hegemonia do trio de ferro no Campeonato Português teve um estranho no ninho no início do campeonato: o Leixões. A equipe da cidade de Matosinhos ficou até a 11ª rodada entre os líderes, mas a carruagem acabou virando abóbora. Após quatro rodadas na liderança, o Leixões amargou uma brusca queda e a exemplo do que aconteceu com o Hoffenheim na Alemanha, acabou nem se classificando para qualquer competição continental em 2009/10.

E se o tradicionalismo acabou imperando na Europa com o tetracampeonato da Inter - onde o Genoa fez campanha surpreendente, quase conseguindo uma vaga na Champions - e do Porto e o tricampeonato do Manchester United, duas grandes hegemonias foram quebradas na Europa: o Bordeaux interrompeu a impressionante série de sete campeonatos consecutivos do Lyon e sagrou-se campeão francês pela primeira vez após 10 anos de jejum. E na Holanda, o AZ Alkmaar do técnico Louis Van Gaal – já contratado pelo Bayern – quebrou uma hegemonia de nove anos de conquistas da tradicional dupla PSV-Ajax na Eredivisie. Além do surpreendente campeonato – apenas o segundo de sua história – a Holanda ainda viu com espanto o Twente se classificar para a pré-Champions por conta do vice-campeonato. O até então tetracampeão PSV (4º) e o Ajax (3º) terão de se contentar com a disputa da Liga Europa.