26.4.10

26 de abril – Dia do Goleiro (ano IV) – Arqueiros, capitães e campeões

Zoff: o mais velho campeão do mundo da história das Copas

Neste que é um dos posts mais tradicionais do Opinião FC, a homenagem ao Dia do Goleiro, vamos aproveitar o ensejo de um ano de Copa do Mundo para mostrar que os portiere italianos são os mais privilegiados dentre todos os outros que tiveram a oportunidade de ser campeões do mundo. Das quatro conquistas da Azzurra, duas foram capitaneadas por goleiros: Gianpiero Combi (1934) e Dino Zoff (1982) - os únicos da posição dentre as 18 edições que tiveram o gosto de levantar primeiro a taça.

Combi, lenda da Juventus – único clube que defendeu em sua carreira -, já havia pensado em se aposentar da Azzurra. Porém o chamado do técnico Vittorio Pozzo o fez reconsiderar a decisão e capitanear a Itália de 1934. Conhecido como o l'Uomo di Gomma (o homem de borracha), duelava com o espanhol Ricardo Zamora e o tcheco Frantisek Planicka como o melhor arqueiro do planeta à época.

Combi e Planicka: encontro de gigantes na final da Copa de 1934

Apostando na experiência do bianconero, então com 31 anos, Pozzo e a Federação Italiana de Futebol eram pressionados pelo regime fascista de Benito Mussolini, que desejava usar o futebol como instrumento político, assim como Hitler o faria dois anos depois, nas Olimpíadas de Berlim. E Combi foi um dos pilares para a primeira conquista da então seleção debutante em mundiais. Recebeu das mãos do próprio Duce a Taça Jules Rimet.

Se existe um atleta que já experimentou todo o tipo de turbulência com a Squadra Azzurra, esse alguém é Dino Zoff. SuperDino (como era chamado) experimentou a glória, quando foi campeão europeu em 1968, a reserva no vice-campeonato da Copa de 1970, eliminado precocemente com a sofrível seleção em 1974 e criticado pela atuação no quarto lugar do Mundial de 1978.

Na Copa de 1982, era visto com desconfiança na meta italiana, assim como o resto do time, que passou o torneio sem falar com a imprensa. Porém, sob a batuta do técnico Enzo Bearzot, a Itália cresceu nos jogos diante de Argentina e Brasil e chegou com autoridade ao título mundial, após 44 anos de jejum. Em grande parte, graças ao despertar do artilheiro Paolo Rossi e aos seis gols sofridos por Dino Zoff, durante os sete jogos daquela Copa. O veterano goleiro mostrava ao mundo que ainda jogava em alto nível, como nas partidas diante do Brasil - durante a "Tragédia do Sarriá" - ou na final contra os sempre perigosos alemães.

Além de levantar a taça, assim como Combi, Zoff também atravessou a melhor fase na carreira como jogador da Juventus. Mas o arqueiro foi além de seu compatriota, tornando-se o jogador mais velho a ser campeão mundial, com 40 anos. Só defendeu menos a camisa da Itália que Fabio Cannavaro (132) Paolo Maldini (126).

Nesta Copa do Mundo, a Espanha pinta como uma das grandes favoritas ao título, credenciada com o título da Euro 2008 e a campanha impecável durante as Eliminatórias Europeias. E em caso de confirmação da primeira conquista da Fúria, certamente quem erguerá o troféu será Iker Casillas, capitão da equipe. Ou seja, há boas chances de que, pela terceira vez em 19 edições, a imagem eternizada ao levantar a mais cobiçada das taças seja protagonizada pelo goleiro do Real Madrid e da Espanha.

RELEMBRE:

Dia do Goleiro, 2009
Dia do Goleiro, 2008
Dia do Goleiro, 2007

23.4.10

Os brasileiros na Libertadores 2010

Estudiantes, de Verón, vai defender o título conquistado no ano passado, em pleno Mineirão


A rodada da última quinta-feira definiu os últimos classificados para a Taça Libertadores. E com ela vem o excelente desempenho brasileiro: os cinco representantes do país passaram a próxima fase - uns com as melhores campanhas, caso de Corithians e São Paulo, e outro com a pior, o Flamengo, graças a uma combinação de resultados.

E, depois das finais caseiras em 2005 e 2006, podemos novamente ver dois brasileiros decidindo o nobre torneio. Bom, pelo menos por enquanto. O esdrúxulo regulamento da Conmebol, como sempre, não é claro, o que gerou uma grande dúvida quanto a essa possibilidade. Motivo: até então, clubes do mesmo país se enfrentariam na semifinal. Para esta edição, a regra valeria já a partir das quartas.

Mas depois de grande confusão, a entidade sul-americana explicou que essa regra valia apenas para os mexicanos, para evitar que houvesse uma final entre times do país. Ou seja, volta a regra da semifinal, o que, pelo cruzamento abaixo, mostra a possibilidade de Corinthians ou Flamengo decidirem contra São Paulo, Cruzeiro ou Inter - se passarem por seus adversários, claro.


A grande expectativa fica para o confronto das equipes de maiores torcidas do Brasil: o 1º Corinthians enfrenta o 16º Flamengo, em jogo que, apesar do clichê, tem tudo para ser memorável. Os paulistas são os favoritos, não apenas pela campanha, mas também pelo péssimo ambiente no clube carioca, que demitiu Andrade e ainda não tem técnico para o duelo.

Mas é também o encontro do flamenguista Ronaldo com o Maracanã lotado torcendo pelo Império do Amor, que, se não vive uma boa fase - diga-se Adriano, envolto em problemas pessoais e técnicos, pode facilmente decidir uma partida. Até o problema com a balança é fator comum entre Fenômeno e o Imperador. Se o rubro-negro voltar a apresentar o futebol do começo do ano, certamente teremos um duelo equilibrado e emocionante, que deixará de luto uma grande massa de torcedores.

Quanto aos outros brasileiros, acredito que devem passar, mas suando a camisa. O São Paulo pega o desconhecido Universitario, do Peru, mas experiente no campeonato: está em sua 27ª participação. A Raposa pega o Nacional do Uruguai, semifinalista no ano passado. E o Colorado, dono da melhor defesa junto com São Paulo e Universitario (dois gols sofridos) pega o argentino Banfield, dono do melhor ataque com 13 gols. Ingredientes não faltam para bons jogos.

20.4.10

Quando o futebol é ingrato

Guarani: ferido pela queda na segunda divisão do Campeonato Paulista há pouco mais de um ano, via a Série B daquela como uma extensão de um ano ruim e tinha todas as perspectivas de cair novamente. Fluminense: declarado “morto”, perdido entre contratações ruins e fadado a ser rebaixado. Porém, os maiores responsáveis para que este confronto não acontecesse no anonimato da Série B não resistiram a uma pequena sequência de maus resultados para caírem, irônicamente, na mesma época: Vadão – que já assumiu a Portuguesa – e Cuca.

O caso de Vadão é ainda mais extremo que o de Cuca. Assumiu, em 6 de abril de 2009, um time em ruínas, desmoralizado e contratando quase que um elenco novo. Ainda assim, o Bugre, sob a batuta do experiente treinador, fez campanha fantástica na Série B, recolocando o clube na elite do futebol brasileiro depois de seis anos de ausência.

O estilo emotivo e paizão de Cuca – que mais o prejudicou do que o beneficiou em sua carreira como técnico – foi o combustível para que o Fluminense, dado como rebaixado por 99% da mídia esportiva brasileira (este blog, inclusive) conseguisse uma rendeção inacreditável. Conseguiu uma sequência, entre Copa Sul-Americana e Campeonato Brasileiro, de 13 jogos sem perder, o que não só salvou o clube de cair à segundona, mas quase lhes deu o título da segunda competição continental da América do Sul, perdida numa final eletrizante para a LDU.

Após a campanha de 2009, o Guarani, como esperado, sofreu um desmanche, o que influenciou diretamente o desempenho da equipe em campo, já que escapou de um rebaixamento no estadual apenas nas últimas rodadas. Já o Fluminense caiu nas semifinais da Taça Guanabara e Taça Rio. Porém, está mais do que vivo na Copa do Brasil, após bater a Portuguesa fora de casa – última partida sob o comando de Cuca.

As diretorias de todos os clubes de futebol do Brasil são imediatistas. Pautam-se exclusivamente nos últimos resultados, deixando de lado o planejamento e a continuidade que tanto são faladas por eles, mas nunca postas em prática de uma forma enérgica efetiva. O Guarani, às vésperas de um Brasileirão, vai ter que se reconstruir com promissor Vagner Mancini, mas Vadão poderia perfeitamente repetir a dose de 2009. Cuca, que perdeu o “importante” Campeonato Carioca deve ser substituído por um caminhão de dinheiro de sua patrocinadora, que deve trazer Muricy, mostrando a sua influência sobre a diretoria tricolor.

Ambos provaram ser capazes de desenvolver um trabalho a médio prazo nestes clubes, dadas as devidas restrições. Mas, em três meses de bola rolando, todo um trabalho comprovado pelos resultado obtidos em campo em 2009 simplesmente desapareceram. A ingratidão, a falta de reconhecimento e de visão dos dirigentes brasileiros são cada vez mais crassos. Só não vê quem não quer.

18.4.10

Impressões sobre a Copa

Crédito: Eduardo Tarran
Mauro Beting, Sérgio Xavier Filho, Paulo Guilherme e Milton Leite

Nesse domingo teve fim o Universo Futebol, evento realizado desde quinta-feira no Ibirapuera, em São Paulo, e que contou com muitas atrações tendo o esporte mais popular do país como tema, como mostras de cinema e literatura, palestras e "game zones", divertindo o público presente.

Entre elas uma mesa redonda com o título "Tentáculos do Jornalismo", mediada por Sérgio Xavier Filho, editor da Placar, e com a presença de Mauro Beting, Milton Leite e Paulo Guilherme. A Copa do Mundo da África do Sul foi o assunto.

Uma das melhores observações foi feita por Paulo Guilherme, coisa que até então eu não havia pensado: pelo andar da carruagem, o Kaká pode se tornar o Raí de 1994, quando chegou na Copa como capitão e camisa 10 e acabou no banco. Kaká não vem jogando bem, até porque a lesão o impede de entrar em campo. Paulo também atentou para a versatilidade de Daniel Alves, o que pode abrir espaço na convocação. Dunga poderia abrir mão de um lateral esquerdo reserva, por exemplo, até porque está difícil de definir um titular.

Um ponto comum foi a falta de jogadores acima da média na equipe. Como parece claro que Ronaldinho não irá mesmo, apenas Kaká e Robinho seriam aqueles para desequilibrar. Concordo, e vejo como mais um motivo para levar os santistas Neymar e o Paulo Henrique. Estão jogando demais.

Milton Leite destacou que o Dunga tem montado a seleção num esquema bem organizado assim como foi em 94. Mas não deveria morrer abraçado aos jogadores que tem sido convocados desde que assumiu. Falta sensibilidade ao treinador.

Mauro Beting levantou a tese de que há um certo preconceito com a seleção tetracampeã. Milton discordou, e acrescentou que Dunga é rancoroso com a seleção de 82 e mesmo com os jornalistas - lembrando dos xingamentos do capitão levantando a taça do tetra. Sérgio Xavier, porém, disse que há sim um certo ranço da imprensa com a equipe de 94, seja pela falta de craques ou também por ter sido mal-humorada. Nessa questão, acho que imprensa e Dunga colaboraram pra isso: nenhum dos dois lados fez questão de criar um ambiente melhor.

Para finalizar, sobre a Copa a ser realizada no Brasil, Mauro Beting resumiu: festa para todos, farra para poucos.

16.4.10

Chicharito em Manchester

*Texto redigido originalmente para o Olheiros

Hernández é a nova aposta do Manchester United para a próxima temporada

Cesare e Paolo Maldini; Pablo e Diego Forlán; Domingos e Ademir da Guia; Jean e Youri Djorkaeff; Miguel e Xabi Alonso. Em comum, alguns exemplos de pai e filho que tiveram o privilégio de defender suas seleções em uma Copa do Mundo. E o Mundial da África do Sul deve proporcionar o prologamento de outro legado familiar ainda maior: Javier "Chicharito" Hernández Balcázar, atacante transferido recentemente ao Manchester United junto ao Chivas Guadalajara, pode repetir o feito de seu avô, Tomás Balcázar, e pai, Javier “Chicarro” Hernández, que estiveram no elenco do México nas Copas de 1954 e 1986, respectivamente.

O pai de Chicarito foi colega de elenco do atual comandante da seleção Tricolor, o então meio-campista Javier Aguirre. E o habilidoso atacante do Chivas pode repetir o feito de seu avô – e que seu pai não conseguiu: marcar numa partida de Copa do Mundo.

O lobby pela ida ao atacante - que completará 22 anos pouco antes da Copa - à África do Sul é tanto, que no país, a onda entre torcedores e imprensa é a “Chicaromania”. Uma grande responsabilidade para o jovem avante, que só foi convocado quatro vezes para a seleção, mas correspondeu com quatro gols. A ida ao futebol inglês na próxima temporada deve dar mais experiência para que o mexicano possa desenvolver toda a sua técnica e habilidade, numa equipe que carece de opções de qualidade para substituir Rooney, atuamente gozando de ótima fase.

Três gerações de gols

Neto de Tomás Balcázar – lenda do ataque do Chivas entre o final de 1940 e quase toda a década de 50 – e filho de Chicarro Hernández - que além da Copa de 1986, jogou o Mundial Sub-20 de 1979 e acumulou passagens por Tecos, Morélia e Puebla - Javier Hernández tem o sangue chiverrío correndo em suas veias desde cedo, já que é natural de Guadalajara e chegou ao clube com apenas 9 anos. A baixa estatura para um centroavante (tem 1,73 m) logo fez com que herdasse o apelido do pai (em espanhol, Chicharito é algo como ervilhazinha).

Acompanhado com muita expectativa desde seus primeiros chutes nas categorias de base, fez a melhor estreia possível pela equipe profissional: aos 18 anos, marcou seu primeiro gol oficial na goleada contra o Necaxa, em setembro de 2006. Pé quente, conquistaria com o Chivas o Apertura daquela temporada, coincidentemente, o último título nacional do clube de Guadalajara.

Apesar do começo promissor e do potencial notável, seria difícil para o novato dividir o espaço no clube com jogadores famosos no futebol mexicano como Omar Bravo, Alberto Medina e Adolfo Bautista, por exemplo. Por isso, Hernández seria pouco utilizado nos dois anos seguintes – apenas nove vezes. Jogaria regularmente a partir do Clausura 2009, para não sair mais do time e depois, parte de La Tri.

Após quase três anos do gol de estreia, Hernández voltou a marcar no Clausura 2009 (terminou com cinco gols), além de boas performances na Libertadores de 2009, onde marcou três gols na fase de grupos. Só não pôde mostrar mais por conta da confusa saída dos mexicanos do torneio continental, já que seus adversários nas oitavas recusavam-se a disputar jogos fora de casa por conta do surto de gripe suína que atingia o México. Com a recusa dos clubes de mandar os jogos fora do país ou de fazer apenas uma partida na casa dos adversários, a Federação Mexicana anunciou a retirada das equipes, que vão entrar direto nas oitavas de final na edição 2010 do torneio.

No Apertura de 2009, Hernández já figurava como principal jogador da equipe. Mesmo com o Chivas fora da Liguilla (a fase final do Mexicano, disputado no sistema mata-mata), o jovem atacante ficou no terceiro posto na tabela de artilheiros do torneio, com 11 gols, ratificando sua condição entre os bons atacantes em atividade no futebol local, como Emanuel Villa (Cruz Azul), Salvador Cabañas (Américas), Humberto Suazo (Monterrey) e Hector Mancilla (Toluca). E as boas performances no campeonato nacional lhe valeriam um posto no México de Javier Aguirre, que ainda procurava experimentar no ataque, que tinha jogadores como o experiente Blanco e o promissor Vela, por exemplo.

Ascensão meteórica de Chicharito na seleção

A primeira convocação à seleção principal veio em setembro de 2009, na derrota por 2 a 1 para a Colômbia, onde o debutante passou em branco. Algo que não se repetiria nas três partidas seguintes, contra Bolívia, Nova Zelândia e Coreia do Norte, quando Hernández anotou quatro gols, dando nova opção ao técnico Aguirre em montar o ataque da equipe. Com mais sete amistosos até a abertura da Copa, contra os anfitriões, não parece que a boa fase do jovem atacante do Chivas seja deixada de lado. A imprensa mexicana dá como certa a ide de Hernández à África do Sul.

Porém, a trajetória do atacante com a camisa do México começou durante o Mundial Sub-20 do Canadá, em 2007. Apesar de não ser titular absoluto daquela equipe, marcou um gol no torneio, contra Gâmbia. O México, que cairia nas quartas de final para a campeã Argentina, tinha jogadores como Giovani dos Santos, Carlos Vela e Pablo Barrera, que provavelmente estarão no elenco pra a Copa de 2010, mostrando a força das categorias jovens do futebol mexicano, em franca evolução.

Mais afiado em 2010

Na disputa do Clausura 2010, o Chivas realiza boa campanha e é um dos favoritos ao título. Em parte, graças ao faro de gol de Hernández, que até o fechamento deste texto, em 29 de março, liderava a artilharia do torneio, com 10 gols em 11 jogos. O jovem bateu recorde do futebol local, ao anotar oito gols nos primeiros cinco jogos do campeonato, deixando para trás jogadores consagrados do passado e presente do futebol mexicano, como Carlos Hermosillo, Ricardo Pelaez, Luís Garcia e Cuauhtémoc Blanco.

A evolução franca de Chicharito o credencia como um dos jovens jogadores que podem aparecer como revelações na próxima Copa, fato atentado por reportagem no próprio site da Fifa. "É uma meta que está aí e sonhar não custa nada, por isso, quero manter a calma. Esta é uma boa oportunidade, é preciso aproveitá-la e trabalhar muito duro", disse o atacante, em entrevista.

Aguirre não deve deixar de fora um jogador com características tão particulares, como a rapidez, o faro de gol e o bom posicionamento na área, apesar da baixa estatura e do porte físico frágil. E se realmente for à Copa com o México, a família de Chicarito completará três gerações em campo com a camisa mexicana, feito notável em se tratando de um torneio no qual é tão difícil estar presente.

14.4.10

Ela chegou. Motivo para comemorar?

A Confederação Brasileira de Futebol finalmente deu seu parecer sobre a famosa Taça das Bolinhas, que deveria ser entregue ao primeiro clube que fosse campeão brasileiro por três vezes consecutivas ou cinco alternadas. E ela vai para a sala de troféus do São Paulo, pentacampeão em 2007 (viria a ser hexa e tricampeão consecutivamente no ano seguinte).

O imbróglio, como o leitor deve saber, se deve ao fato de que em 1987 houve dois torneios, um organizado pela CBF cujo campeão foi o Sport, e outro pelo então recém-criado Clube dos 13, que teve o Flamengo como vencedor. Os principais clubes do país disputaram o segundo.

Vejo a questão da seguinte maneira: o dono legítimo da taça é o São Paulo, e o moral é o clube da Gávea. Se a taça é um presente (ou prêmio - não sei ao certo como classificá-la) pela CBF, e o vencedor da competição organizada pela entidade em 87 foi o Sport, não tem conversa. O primeiro a levar cinco troféus pra casa foi o Tricolor. Simples.

Mas se o São Paulo disputou a Copa União e, na época, reconheceu o Rubro-Negro como campeão nacional, deveria ter a dignidade de oferecer a relíquia aos cariocas. Se a CBF tinha alguma dúvida em relação a isso, deveria ter entregue a Taça ao Fla em 1992, ano do reivindicado penta. Ou então ao São Paulo no ano de 2007, já que a justiça brasileira, em decisão de última instâcia - e por isso sem possibilidade de alteração do veredito, já havia afirmado em 1994 ser o time pernambucano o campeão brasileiro de 1987. Coisas da entidade do Ricardo Teixeira.

Uma saída simples e que, a meu ver, ficaria bom para todos, seria fazer duas réplicas da Taça das Bolinhas, para que cariocas e paulistas pudessem exibí-la em suas galerias, e a original indo parar no Museu do Futebol, como um patrimônio e símbolo de uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro. Mas o ego arrogante dos dirigentes são-paulinos e o orgulhoso dos flamenguistas não devem chegar ao acordo. É uma pena.

11.4.10

Glamour que cega

Robben: de dispensável no Real a indispensável no Bayern

A obsessão em ser tornar a maior equipe do mundo a qualquer custo – literalmente falando – faz com que o Real Madrid jogue investimentos ralo abaixo. O post “Êxodo da legião holandesa”, feito aqui pouco antes do início desta temporada, falava sobre exatamente sobre isso. E como bem escreveram os parceiros do Papo de Craque e Marcação Cerrada, chega a ser irônico que Inter e Bayern chegassem às semifinais da Champions League graças aos gols decisivos de Sneijder e Robben, dois “dispensáveis” segundo o planejamento merengue do início da temporada. Já o Real está há seis temporadas sendo eliminado nas oitavas, muito pouco para o maior vencedor do principal torneio de clubes do mundo.

É fato que havia pouco clima para os dois holandeses, mas não podemos deixar de notar a importância deles em suas novas casas. Jogador de características raras no futebol atual, a de armador centralizado de jogadas (ou playmaker), Sneijder é tão imprescindível na Inter de Mourinho quanto o artilheiro Milito, o incansável Cambiasso ou o goleiro Júlio César. Desde que chegou à Milão, o camisa 10 fez 33 partidas, com seis gols e 11 assistências. Exímio passador e cobrador de faltas, está em um melhor momento que o também habilidoso Rafael Van der Vaart, homem que deveria fazer tal função no Real de Pellegrini.

Já Robben havia mostrado que poderia ser útil na pré-temporada e parecia que havia conquistado um lugar no Santiago Bernabéu para esta temporada. Porém, saiu da sombra da incerteza do Real para ser tornar, ao lado de Ribéry (alvo de especulação constante do time madrileno, ironicamente), o principal jogador da equipe comandada por Louis Van Gaal. Em 29 partidas, o camisa 10 bávaro contabiliza 16 gols e seis assistências. Tem mais liberdade de atuar em campo e não fica restrito apenas à esquerda, como nos tempos de Real e Chelsea. Vem atravessando momento ímpar na carreira, ao ser decisivo nos dois duelos recentes contra o Manchester United, e na fase anterior da competição, contra a Fiorentina.

Ambos seriam boas opções para substituir Kaká, que está às voltas com contusões e mau futebol com a camisa oito merengue. Vendidos por € 40 milhões (€ 25 mi de Robben e € 15 mi de Sneijder), custaram cerca de ¼ do valor de seus substitutos, Kaká e Cristiano Ronaldo – só o último corresponde o investimento, até aqui. Na briga pelo título espanhol – o único que restou após a precoce eliminação para o Lyon na Champions – o Real foi batido em El Clásico em casa e vê o título doméstico longe. Os dois gols do Barcelona, “made in canteras” com Messi e Pedro. O capitão Casillas e o contestável Arbeloa eram os únicos formados no clube entre os 11 iniciais, contrastando com os sete blaugranas que começaram a partida no Santiago Bernabéu (mais Iniesta, que entrou na segunda etapa). É onde mora atualmente a diferença brutal entre os eternos rivais: um quer comprar a fama a qualquer custo, o outro simplesmente a faz naturalmente, por conta de suas ações dentro e fora de campo.

8.4.10

Missão cumprida

Capitão e presidente, Juninho retribuiu ao Ituano ajudando a livrar a frágil equipe do rebaixamento no Paulistão

Em meio ao turbilhão para definição das últimas duas vagas para as semifinais do Paulistão, um jogador renomado sofria, calado, mais que os outros: o pentacampeão mundial Juninho via agonizar o seu Ituano – time que o revelou ao futebol e do qual se tornou capitão e presidente, aos 37 anos. Precisando de uma combinação de resultados, além de ter que derrotar a Portuguesa, que tinha chances (pequenas) de classificação, a equipe de Itu – aquela, que tomou de nove do Santos – parecia fadada a cair para a segundona.

E comandados por Juninho – da cadeira da presidência, passando pelo vestiário e marcando o gol que iniciou a fantástica reação – o Ituano se salvou. Nesse futebol tão profissional e que alguns insistem em tratar como uma relação fria, Juninho chorou ao encerrar a carreira, após ter cumprido a missão de ter salvado a equipe que defendia e era grato por ter dado o pontapé inicial em sua carreira de sucesso. E, com justiça, o feito foi notícia na maioria dos programas esportivos desta quinta.

Surgido com destaque no Ituano, cresceu de produção no São Paulo. Foi se aventurar na Premier League – bem menos badalada e restrita em relação aos dias atuais – no pequeno Middlesbrough, em 1995. Quase 15 anos após sua transferência, nenhum brasileiro chegou próximo do sucesso que o meia fez na Inglaterra. Campeão da Copa da Inglaterra em 2004, Juninho é considerado um dos melhores jogadores da história do Boro, no qual teve três passagens (1995 – 1997, 1999 - 2000 e 2002 – 2004). Poderia ter sido útil ao Brasil de Zagallo, em 1998, se não fosse a entrada criminosa do botinudo Michel Salgado, quando o brasileiro fazia boa jornada no Atlético de Madrid.

Juninho merece a nossa reverência, não apenas pela atitude espontânea com a camisa do Ituano e por ser campeão do mundo em 2002, mas por ter sido um profissional exemplar e dedicado durante toda a sua carreira. Se for tão eficiente como dirigente quanto foi dentro das quatro linhas, o Ituano estará bem servido sob seu comando. A fibra mostrada por Juninho está em falta dentro do futebol brasileiro, onde jogadores que não conquistaram nada se deslumbram com pequenas boas fases e cometem atitudes lamentáveis.

"A melhor coisa que tem no futebol é jogar. Ser administrador não é como entrar em campo. Mas a hora chega, é difícil parar, o corpo não aguenta mais. Hoje até segurei o jogo todo, e foi muito especial. Por isso que eu falo para os garotos: aproveitem, porque não sabem quando chegará esse momento de parar", disse o meia, em sua despedida. Que sirva de exemplo.

Reportagem do GloboEsporte sobre o feito de Juninho:


7.4.10

Fim do domínio inglês?

Nesta quarta-feira foram definidos os dois últimos semifinalistas da Champions League 2009/10: Lyon e Bayern de Munique eliminaram Bordeaux e Manchester United, respectivamente, e vão decidir quem enfrenta o vencedor de Barcelona e Internazionale na grande decisão. São quatro equipes de nacionalidades diferentes.

O que chama a atenção para a ausência dos times ingleses, que até então vinham impondo um grande domínio no nobre torneio continental. Para se ter uma ideia, as últimas cinco finais da Champions tiveram um representante da terra da Rainha, com destaque para a edição de 2007/08, na final caseira entre Manchester e Chelsea.

O primeiro a cair e aquele que mais decepcionou foi o Liverpool. Em péssima fase técnica e totalmente dependente de Gerrard e Fernando Torres, que passaram boa parte da temporada lesionados, não passaram nem da fase de grupos, ficando atrás de Fiorentina e Lyon. Aliás, perdeu para ambas equipes em pleno Anfield, o que inviabilizou a classificação.

O Chelsea, como já foi postado, caiu para a Inter de Mourinho, sendo derrotado nas duas partidas das oitavas de final. Decepção para o russo Abramovich, que viu seu sonho adiado mais uma vez. Já o Arsenal foi até que bem, ainda mais levando em conta o incrível histórico de lesões no plantel, prejudicando muito o trabalho do francês Arsene Wenger. Poderia ter ido mais longe se tivesse tido um pouco de sorte nos sorteios para as quartas de final e evitado o confronto contra o Barça do craque e iluminado Messi.

Já o Manchester United vacilou feio, e ainda sofreu o gosto amargo da vingança dos alemães de Munique. Nos dois jogos, dominou amplamente o primeiro tempo, e poderia ter aberto uma goleada histórica. Não fez. Nesta quarta, chegou a estar vencendo por 3-0 ainda no primeiro tempo, mas não soube administrar a vantagem e foi eliminado em casa, em partida que contou com um Rooney baleado, a expulsão boba do brasileiro Rafael e um golaço do holandês Robben, após escanteio cobrado por Ribéry.



Será que estamos diante de uma nova era, ou foi apenas um vacilo? Acredito que seja a segunda opção. Os ingleses ainda contam com uma Premier League forte e, mais importante, com muito dinheiro. Devem voltar fortes para a próxima edição - lembrando que o Liverpool ainda está perigando. Que esta temporada sirva de lição.

6.4.10

Tradição de volta à Premier League

Menos de um ano após o vexame do rebaixamento, Newcastle mostra imponência e retorna à elite

Rebaixado pela própria incompetência na temporada 2008/09 da Premier League – uma simples vitória contra o Aston Villa teria salvo a equipe – o Newcastle confirmou nesta segunda que está de volta à elite do futebol inglês. O empate em 0-0 do Nottingham Forrest (3º, 72 pontos) com o Cardiff garantiu os Magpies em uma das vagas do acesso direto à Premier – dois times sobem direto e um sobe pelos playoffs.

Um dos times ingleses mais tradicionais da atualidade, o Newcastle confirmou a festa ao vencer o Sheffield United por 2-1. Com 89 pontos, a equipe comandada por Chris Hughton – efetivado nesta temporada – deve garantir o título da segundona sem maiores problemas.

“Novato” como técnico, o irlandês conseguiu adequar a equipe à política de contenção de gastos que pede a Championship. Manteve bons valores da elenco que caiu, como o selecionável argentino Jonás Gutierrez, o experiente Nicky Butt e os atacantes Carroll e Ameobi, além de trazer algumas peças para o nível que a competição pedia como o experiente Lovenkrands e o jovem lateral Danny Simpson, – mesmo perdendo medalhões como Duff, Given e Oba-Oba Martins. Além disso, conseguiu contornar a briga entre Carroll – um dos artilheiros da equipe na temporada – e Steven Taylor por conta de caso extraconjugal envolvendo ambos, já na reta final da ótima campanha de apenas quatro derrotas, segundo melhor ataque e melhor defesa.

Clube médio de boa estrutura, o Newcastle acrescenta e dá mais tradicionalidade ao Campeonato Inglês. Após o retorno da segunda divisão em 1992/93, foi responsável pela transferência de Alan Shearer junto ao Blackburn, em 1996 (a mais cara do mundo, à época, cerca de 20 milhões de libras). Com o devido planejamento, a equipe que fez frente ao Manchester United no meio da década de 90, pode, ao menos, fazer campanhas dignas após o novo regresso.

E uma dose dupla de tradicionalidade pode ocorrer se o Nottingham Forrest, bicampeão europeu de 1979 e 1980 e fora da elite inglesa desde 1998/99, também garantir o seu retorno. Esperemos os sempre dramáticos playoffs na terra dos inventores do futebol para saber se o futebol inglês pode ganhar em dobro. Ao menos em tradicionalidade.

4.4.10

Precisamos de mais Santas Cruzes

De um lado, uma equipe grande, badalada pelo bom momento vivido no Campeonato Carioca, quando ganhou moral com a chegada de Joel Santana ao comando do time, que venceu a Taça Rio com os bons momentos da dupla de ataque gringa Loco Abreu e Herrera. O outro trazia um Santa Cruz que tinha perdido a partida de ida em casa da Copa do Brasil e vinha de derrota no clássico diante do Sport.

Nos últimos três anos, o time Cobra Coral despencou de divisões – estava na elite em 2006 - e ainda não tem participação na Série D do Brasileirão, já que fez campanha pífia no torneio em 2009. Um misto de má administração e dívidas jogou o time de segunda maior torcida de Pernambuco e um dos clubes mais tradicionais do futebol nordestino no limbo futebolístico.

Obviamente, a equipe tricolor pernambucana chegou ao Engenhão como coadjuvante. Mas jogou melhor e reverteu a vantagem, classificando-se às oitavas de final da Copa do Brasil. Mas o melhor foi quando o elenco do Santa chegou à Recife. Uma recepção calorosa em plena quinta-feira pelos torcedores no aeroporto, desta que é uma das torcidas mais fanáticas do Brasil e que teve a segunda maior média de público em 2009, mesmo com a má campanha na Série D. O maior patrimônio de um clube que tenta, novamente, ressurgir.

Prova de que é preciso mais do que maus administradores e descaso com a história de um clube para minar a paixão de torcedores. Algo que alguns times “artificiais”, que acham que futebol é feito apenas de interesses e sem identificação alguma nunca saberão como ter, como é o caso do imbróglio do Grêmio-SP, que mudou-se recentemente para Presidente Prudente – sem entrar no mérito das cidades, e sim da origem e intenção de tais investimentos no futebol.