A presidente Cristina Kirchner garante que esse avanço para a “popularização do esporte” será pago tão e somente com propagandas comerciais, sendo que o subsídio não partirá diretamente dos cofres do governo (o que parece difícil de se acreditar). Participações argentinas em torneios mundiais, olímpicos e continentais serão transmitidas rotineiramente. Até mesmo competições que não envolvam argentinos, mas que sejam de grande relevância – como a próxima Copa América, que será sediada por eles, terá jogos transmitidos. "Ao 'Futebol para Todos' se soma o 'Esportes para Todos', para que todos possam desfrutar do esporte, todas as pessoas que não podiam ter acesso porque não tinham meios para isso", analisou a presidente.
O acordo firmado com os canais ESPN, Fox e Torneos y Competencias (do grupo Clarín) determina que os canais fechados terão direito a transmitir uma das partidas de determinado evento com exclusividade, enquanto as outras serão veiculadas pelo Canal 7 gratuitamente. Sempre respeitando o “artigo 77”, que listará os torneios relevantes a serem transmitidos com o sinal aberto, determinados com antecedência. Fechado na última quinta-feira, o acordo foi anunciado por Kirchner, ao lado de esportistas como o tenista David Nalbandian, o técnico da seleção argentina de futebol Sergio Batista, o ganhador do ouro olímpico no ciclismo Juan Curuchet, o presidente do Comitê Olímpico Argentino, Gerardo Werthein, e os ex-atletas Guillermo Vilas, Ubaldo Fillol e Agustín Pichot, entre outros de relevância no esporte local.
Naturalmente, as críticas da implantação desse programa passam pelo seu uso durante o período de eleições no país (que acontecerão em outubro de 2011) e a chamada política do “pão e circo”, ocultando outros problemas argentinos com a massiva transmissão de eventos esportivos, usando-os como palanque eleitoral.
Em uma situação diametralmente oposta ao Brasil, não seria correto afirmar que o subsídio das transmissões esportivas fosse uma solução correta ou viável por aqui – penso que o subsídio deve ocorrer com massividade na formação de novos atletas, em todas as modalidades, exceto futebol e vôlei, de mais estrutura, além da influência das grandes redes de TV. Mas a veiculação de diversas modalidades, apesar das críticas citadas, pode se reverter em um benefício relevante: o interesse do público no conhecimento e prática de outros esportes, como basquete, tênis e rúgbi, em que o país portenho é uma das referências mundiais.
Diferente de seus vizinhos, a medida terá algum benefício em favor da população, por mais questionáveis que sejam seus métodos ou fins. Já em terras tupiniquins, TVs e clubes discutem a forma de faturar ou se beneficiar mais, deixando aquele que faz boa parte do espetáculo ter algum sentido em segundo plano: o torcedor/telespectador. A transmissão do futebol no Brasil, em sua maioria, é massiva. Mas, segundo os interesses globais, sempre de forma regionalizada e visando tão e somente a audiência. Tanto que, se um clube carioca ou paulista não está na final de uma Libertadores, por exemplo, o telespectador desses estados é privado de ver times de outras regiões em campo, como aconteceu nas duas últimas edições – onde Cruzeiro e Inter decidiram o caneco continental. O torcedor vê todo o torneio, mas é privado da final, o suprassumo, que passa somente nos canais a cabo. Portanto, é ponto para nossos hermanos.